Umberto Nigi expõe obras inéditas no CCBB BH
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Umberto Nigi expõe obras inéditas no CCBB BH

As obras artista italiano Umberto Nigi estão em exposição  no CCBB-BH (Centro Cultural Banco do Brasil), Com a temática “Cor e forma: a poesia do equilíbrio”

Com mais de 100 obras inéditas na capital mineira, a exposição reúne uma antologia do italiano Umberto Nigi, com esculturas sobre madeira, quadros de sua fase figurativa, nos anos 80, até passagens pelas décadas de 1990, 2000 e 2020, em que o artista plástico transita para a pintura abstrata e passa a mesclar, nas telas, materiais reciclados como areia, juta, papel, rede metálica, gesso e outros.

A exposição fica em cartaz até o dia 14 de novembro, de quarta a segunda, das 10h às 22h, e a entrada é gratuita. Os ingressos podem ser retirados pelo site bb.com.br/cultura ou na bilheteria do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários).

Durante o período da exposição, no dia 28.09, quarta-feira, amantes de Piazzolla e Vivaldi, podem assistir ainda ao show gratuito com o jovem acordeonista italiano Pietro Roffi e o quarteto de cordas Família Barros, a partir das 20h, no Teatro 1. Mais informações sobre a exposição e o show: bb.com.br/cultura I (31) 3431-9400 I Redes sociais CCBB: (Instagram) @ccbbbh @ItalyinBH/ (twitter) @ccbb_bh / (Facebook) ccbb.bhEste projeto tem apoio do Centro Cultural Banco do Brasil e patrocínio do Consulado da Itália em Belo Horizonte.  

Umberto Nigi no Atelie - Por Raquel Guerra

“Para mim é importante equilibrar o quadro. O jornalista e escritor americano Robert Bridge dizia que: ‘a nossa estabilidade é somente equilíbrio e a nossa sabedoria está no controle do imprevisto’. É o que tento praticar em minha obra”, explica o artista italiano Umberto Nigi que define o próprio trabalho como uma arte feita de materiais simples, mas rica em cores.

“Quando se fala no inesperado, isso parte da matéria que se usa. No meu caso, as tintas, a juta, o gesso, cola, papel, a areia etc. A matéria é o artista que comanda, mas é preciso saber comandá-la, pois pode nascer algo diferente daquilo que você deseja colocar na tela”, conclui.

Na exposição “Cor e forma: a poesia do equilíbrio” em cartaz no CCBB BH, o público aprecia, segundo o curador José Theobaldo Júnior, trabalhos notáveis. “Fizemos um recorte antológico de obras de Umberto Nigi. Artista de vanguarda, sempre à frente de seu tempo, mostra a genialidade de sua obra percorrendo um longo caminho entre sua pintura naif até a arte abstrata, com síntese, requinte e sofisticação da poesia expressa através da multiplicidade de cores, relendo múltiplos ambientes, matizados entre céu e terra, por onde viveu, como cidadão do mundo”, explica.

OBRAS Umberto Nigi

São ao todo 17 quadros figurativos históricos, 20 esculturas sobre madeira, e ainda, 29 telas sobre papel fabriano. “Obras únicas, feitas neste papel especial encontrado somente na Itália, que mesclam pintura e reciclados diversos. Já as esculturas sobre madeira têm uma particularidade.

Algumas delas não são pintadas totalmente. Deixo a madeira em sua origem: parte que gosto muito, prefiro não cobrir com as minhas cores”, contextualiza Umberto Nigi.

Os visitantes contemplam também 36 obras do artista dedicadas à pintura abstrata em diálogo com a juta. “O abstrato é a não representação da realidade. Cada um que olha o meu quadro, vê alguma coisa diferente, porque eu não tenho um tema. Não existe uma hierarquia entre várias partes da tela. As formas e cores não procuram existir no espaço, mas serem elas mesmas o espaço, até por isso não dou nome aos quadros”, explica.

Artista

Umberto Nigi nasce em 13 de maio de 1945, na pequena ilha de Gorgona, na Toscana, e cresce em Livorno, cidade do pintor Amedeo Modigliani. Lá é influenciado pelo movimento dos pintores Macchiaioli – artistas responsáveis pelo ressurgimento da renascença italiana, no final do século XIX, que se opõem ao academicismo. Em 1977, realiza sua primeira mostra individual, em Firenze e, aos poucos, se torna conhecido por um estilo único, denominado primitivista, pela crítica da época.

“Nigi começou sua carreira a pintar quadros primitivos. Como pintor naif mostrou nas telas de então sua preocupação com a terra, a justiça social, o trabalho manual do homem do campo, daqueles que lutam durante uma vida”, lembra o crítico de arte Carlos Perktold.

Após realizar exposições em toda Itália, onde recebe suas primeiras premiações, Nigi decide ganhar o mundo. Em quase 50 anos de estrada, reúne 33 exposições pessoais pelos quatro continentes. Em suas andanças, chega a morar em pouco mais de 30 lugares, entre eles, Oriente Médio, New York, Milão, Jordânia, Iraque. “Isso me enriqueceu culturalmente, mostrando-me novas estruturações de cores e texturas, novos vínculos com a imagem e o pensamento, e nova formulação do tempo, me fazendo abandonar, aos poucos, o figurativo”.

Umberto Nigi Raquel Guerra
Umberto Nigi – Raquel Guerra

Inspirações

Mas é a passagem pelo Cairo (Egito), nos anos 80, que representa um ponto de mudança decisivo em sua trajetória: “emergem formas, cores e sensações no caminho da minha pintura. De modo sublimar, inconsciente, percebida somente no momento posterior. Até que a procura se torna urgência e encaminha-se definitivamente para a forma através de um longo período de árduos trabalhos que perduram até o início dos 90.

Me descolar da pintura figurativa não foi fácil. Mas não me sentia provocado. Morando longe, as imagens da minha terra estavam aos poucos saindo de minha memória. Entravam outras pelo contato com artistas egípcios importantes, que me levavam ao abstrato”, descreve.

Além dos artistas egípcios, Nigi também tem como referência os mestres abstracionistas Rothko e De Kooming, descobertos pelo artista nos anos de permanência nos Estados Unidos. O crítico Carlos Perktold sugere ainda que o requinte abstracionista presente em Nigi se deva à sua passagem prévia pela escola primitivista. “O quadro abstrato, para ser belo, é preciso que o artista tenha passado e permanecido durante muito tempo no figurativo e, a partir deste, simplificar, abstrair sua pintura. Como Nigi fez”.

Materiais

Já o amor de Nigi pela juta nasce pouco depois, ainda na década de 1990, quando o pintor passa a trabalhar com reciclados. “É minha política de recuperação lenta e gradual de materiais. Quando colocados na tela, terão o mesmo valor que a própria tela”, diz. Em Roma, lembra-se de ver chegar, na famosa cafeteria da Praça de Sant’ Eustachio (em que era assíduo frequentador), grandes sacos feitos de juta onde estava escrito “Café do Brasil”. Naquele ano (1995), começa a desenvolver um estilo próprio, que mescla a explosão de cores da pintura abstrata com matéria reciclada como juta e também gesso, rede elétrica, areia, entre outras.

“Quando me deparei com aquela cena, me senti afeiçoado pela juta e toda a história que ela carrega. Sacos que deviam ter atravessado o mundo, e que, depois de úteis para o transporte do café pelo homem, são abandonados”, recorda. O curador da exposição José Theobaldo Júnior acrescenta que Nigi, além de ter criado um estilo único, “ao aproveitar esses materiais para a composição de suas pinturas e esculturas, de maneira consciente, se preocupa com a defesa do meio ambiente”.

Belo Horizonte

Agora em 2022, faz 20 anos que Nigi veio à trabalho para o Brasil e escolheu Belo Horizonte para morar. Em sua chegada à capital mineira, se encanta pelas tonalidades “estupendas” do céu e pela gente “acolhedora”. Inspirado, volta a trabalhar somente com a pintura. Mas em poucos anos é novamente “atravessado” pela juta. “Eu quero expressar o que estou vivendo, colocando esses materiais nas minhas telas, pintando as cores, a cromaticidade. O pintor não tem nada a dizer. Porque a pintura só pode existir como pintura. É uma arte muda. Uma linguagem que não pode ser traduzida em outros tipos de comunicações. É difícil para um pintor descrever o que coloca na tela porque é sentimento. Um sentimento de um momento”, afirma.

Consulado da Itália (Belo Horizonte)

O Consulado da Itália em Belo Horizonte vem reforçando nos últimos anos uma série de ações voltadas a promoção da cultura italiana em Minas Gerais, aproximando assim italianos e brasileiros. Após a exposição “Minas – Itália: construção da Modernidade” que convidou o público em 2020 para conhecer as obras de arquitetura italiana presentes na capital, o Consulado volta ao CCBB com uma exposição que acende os holofotes sobre a vivacidade da arte contemporânea italiana, homenageando a mescla de cores vivas das belas paisagens italianas com as brasileiras.

Fotos: Raquel Guerra

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