No mundo dos vinhos vale o conhecimento
Déco Rossi trabalhou nas maiores agências de publicidade do País mas se rendeu ao mundo dos vinhos. Descendente de italianos, cresceu vendo o pai e o avô materno degustando a bebida. Mas foi em Nova York que a decisão foi tomada: a carreira sofreria uma guinada e a história que tem apenas nove anos inclui formação pelo renomado instituto inglês Wine & Spirit Education Trust; o blog EnoDeco premiado pelo Guia 4 Rodas de vinhos, coluna na Revista Bloggers e juri de revistas e diversos concursos nacionais e internacionais de vinho.
Desde 2012 faz o papel de Relações Públicas da Wines of Argentina, sendo hoje uma das referências em conhecimento daquele País. E ainda teve tempo de se tornar produtor em parceria com a renomada enóloga Susana Balbo, ao ganhar um concurso. Hoje ele produz o Devita Reserva Família na Vinícola Lagarde, também na Argentina.
“Eu estava muito estressado com a publicidade, já não tinha tesão de trabalhar. Numa viagem a Nova York fui a uma loja de vinhos que haviam me indicado. Conversando com a vendedora fiquei sabendo de vários cursos. Voltei com a decisão tomada e entrei na sala do Whashington (Olivetto) dizendo que estava fora. Já tinha um ano que tinha o meu blog e aí o bichinho do vinho, que estava comendo pelas beiradas, se instalou de vez”, relembra Rossi.
Hoje o seu trabalho o faz conhecer como poucos os vinhos argentinos e sua relação com o Brasil. Sem querer classificá-los como melhores ou piores que outros, ele afirma que os vinhos argentinos têm características próprias e vão muito além dos Malbecs, eternos carro-chefe do país vizinho. A Argentina disputa com Portugal o segundo posto de nacionalidade mais importada pelo Brasil. O primeiro lugar é ocupado pelos chilenos.
“Nesses sete anos fizemos um trabalho muito grande para comunicar não só sobre a Malbec. A Argentina tem uma grande variedade de uvas. Para mim a principal é a Carbenet Franc, não pela quantidade, mas pela qualidade. O que distingue a Argentina é que como um país de dimensões continentais não tem influência do mar. Além disso, tem a altitude. Em Mendoza os vinhedos mais baixos estão a 900 metros. Existem outras regiões do País que chegam a 3 mil metros. Isso garante uma grande amplitude térmica e incidência solar que favorece as plantas”, destaca.
É claro que a gente ama os vinhos argentinos, mas o Brasil está crescendo em quantidade e qualidade e o PopFino não ia perder a oportunidade de pedir uma avaliação. Para o profissional, os espumantes brasileiros merecem as premiações que têm conquistado ao redor do mundo. Para ele, o maior problema junto à alta carga tributária, é o eterno preconceito do consumidor contra o produto nacional.
E sobre os produzidos em Minas Gerais ele aposta em um futuro brilhante: “Sobre os mineiros conheço os syrahs da Serra da Mantiqueira. A região de Andradas (Sul de Minas) está produzindo bons vinhos. Estão caminhando devagar, porque não é uma produção em larga escala, mas tem qualidade e um potencial enorme para se tornar um polo vitivinícola no Brasil, sem dúvidas”, avalia.
E para quem tem ainda um medinho mas sonha em transitar com tranquilidade pelo mundo do vinho, a regra é clara: estude e beba. Mas beba observando, prestando atenção nos detalhes. No mais é curtir, estar aberto a novas experiências, buscando sabores, origens e possibilidades diferentes, respeitando o seu próprio gosto. E se lembre de deixar os preconceitos e as regrinhas de lado. Nesse mundo não existe certo ou errado.
“Tem muitas bobagens por aí, como a história que quanto mais funda for a bundinha da garrafa ou que quanto mais intensa for a lágrima – aquela marca que fica na taça quando giramos o vinho dentro dela – melhor o vinho. Tudo isso é bobagem. Também já vi gente sentindo aromas que nem sei se existem. Um dia uma pessoa disse que sentia aroma de clorofila negra. ‘Meu amigo, eu não sabia que clorofila tinha cheiro e muito menos que existe clorofila negra’ (segundo um biólogo amigo, isso não existe). Tempos depois encontrei o mesmo sujeito falando em aroma da primeira manhã de primavera nos bosques da Romênia. ‘Ah… vá catar coquinho, né?’”, diverte-se o RP da Wines of Argentina.
Quando, raramente, se distancia um pouco dos vinhos, a bebida preferida de Rossi, depois de outra taça de vinho, é a cerveja de trigo. E quanto ao melhor vinho da sua vida – além do que ele produz na Argentina e que a cada ano ganha um novo rótulo que homenageia alguém ou algum fato importante da sua vida – ele já respondeu essa pergunta muitas vezes.
“Cada vez respondo uma coisa diferente, mas o melhor foi um Lafite Rothschild que o meu pai abriu achando que ele já estava passado. Ele tinha ganho muito tempo atrás e ficou na adega e ele nem queria abrir e eu insisti. Eu mesmo abri e coloquei num decanter, fiz todo o serviço, e na hora de servir ele estava de tomar de joelhos, incrível, impressionante!”, emociona-se Déco Rossi.
Sendo assim, tin-tin, Déco! Obrigada pelo papo que nos ensinou tanto.