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Cervejarias artesanais mineiras já usam lúpulo plantado no Estado

Segundo Pero Vaz de Caminha – o escrivão da esquadra de Cabral – ao reportar ao Rei de Portugal a descoberta da nova terra, que no futuro se transformaria no Brasil, nestas terras, “em se plantando, tudo dá!”. Pois parece que o navegador que aqui chegou em 1500 tinha razão. Dá de tudo, até lúpulo!

A pequena flor do lúpulo originária das regiões temperadas da Europa é responsável pelo amargor e aroma característico da cerveja. Durante muito tempo não se acreditou que fosse possível cultivá-la no ensolarado e quente clima brasileiro.

As pesquisas no Brasil começaram, há menos de dez anos, em São Paulo com o desenvolvimento de uma variedade batizada Mantiqueira. Agora, na cidade de Rio Espera, na região Central de Minas Gerais, a fazenda Fartura se destaca pelo pioneirismo ao apostar na cultura.

São dois terços de hectare que já completaram a segunda colheita. De acordo com o sócio da Fazenda, o veterinário Getúlio Guedes de Souza, o clima de montanha com alto índice de insolação tem se mostrado ideal para o desenvolvimento do lúpulo que é classificado como aromático.

O lúpulo é cultivado e beneficiado por trabalhadores locais. A seleção das flores, extremamente delicada, é feita exclusivamente por mulheres. A colheita terminada no início de fevereiro rendeu 60 quilos e foi vendida para cervejarias artesanais do polo produtivo de Juiz de Fora (Zona da Mata) e principalmente para a Cervejaria da Loba, em Santana dos Montes, também na região Central. Plantadas há apenas dois anos, a expectativa é que, com o tempo, os pés tenham um aumento de produtividade.

Uma curiosidade é que o lúpulo é plantado intercalado com o feijão. A leguminosa tem a capacidade de fixar compostos de nitrogênio no solo, elemento essencial para o desenvolvimento do lúpulo. Flores locais são utilizadas para espantar possíveis pragas.

“Existem poucas experiências com plantio de lúpulo no Brasil. Aqui na região somos os primeiros. Agora nossos vizinhos estão se interessando e começando a estudar e plantar. É importante pra nós criar uma comunidade, mais gente produzindo gera um mercado mais forte. Hoje todo o conhecimento que temos vem da leitura de artigos estrangeiros. Ter outras pessoas produzindo ajuda no desenvolvimento de todos. Estamos também buscando parcerias com universidades. Já trabalhamos com a UFV (Universidade Federal de Viçosa)”, explica Souza.

Cervejaria Loba

A Cervejaria da Loba é uma das incentivadoras da produção em Rio Espera. Criada em 2013, a fábrica passa agora por um ciclo de expansão, ganhando novos 1,2 mil metros quadrados. A produção de 70 mil litros mensais passará a 120 mil litros assim que os equipamentos entrarem em operação. A meta é alcançar 150 mil litros por mês logo que a produção atinja o ápice. São produzidos 13 diferentes rótulos.

Segundo o mestre-cervejeiro responsável pela produção, Kelvin Azevedo Figueiredo, tudo deve estar em funcionamento até abril. O objetivo é trabalhar cada vez mais com o lúpulo Mantiqueira. “A expansão é um processo demorado e delicado. Hoje não conseguimos atender todos os pedidos. Foi investido R$ 1,2 milhão e devemos aumentar o número de colabores cerca de 30%, praticamente todos ocupados por trabalhadores locais”, afirma Figueiredo.

A Cervejaria da Loba está localizada dentro da Fazenda Guarará, junto ao Hotel Fazenda da Chácara, e recebe visitantes nos fins de semana para conhecer a produção e degustar os sabores oferecidos. As informações estão disponíveis no site da cervejaria.

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