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Minas Gerais: Vilas do Ouro – São João del Rei, Caeté e Serro

Texto: Daniela Maciel, Jornalista e Historiadora

Edição e Fotos : Carla Silva 

Na segunda parte da nossa  série sobre as VILAS DO OURO Minas Gerais contamos a história da formação de São João del Rei, Caeté e Serro.

SÃO JOÃO DEL REI

Em 1713 foi a vez do Arraial Novo do Rio das Mortes, fundado em 1704, se tornar a Vila de São João Del Rei. No Campo das Vertentes surgia, então, a principal povoação setecentista da região e uma das principais cidades do Estado até hoje, com cerca de 90 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2017.

Ao longo do Córrego do Lenheiro surgiu um dos mais impressionantes centros da economia minerária, hoje convertido em centro histórico. A Rua Direita (que modernamente ganhou o nome de Avenida Getúlio Vargas, mas ninguém se refere a ela assim) vai da Igreja de Nossa Senhora do Rosário à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, passando pela Matriz de Nossa Senhora do Pilar. São menos de 300 metros ladeados por um dos mais importantes casarios coloniais e, ainda, pela casa de Dom Lucas Moreira Neves e hoje Memorial que homenageia o religioso.

Os caminhos percorridos pelas damas, os senhores e, principalmente, pelos escravos ainda exalam romances, a dor da escravidão e conspirações ladeadas pelos casarões convertidos em lojas de artesanato e objetos fabricados em estanho – outra antiga tradição da cidade -, em que o número de janelas significava poder e a trilha sonora – já declarada patrimônio imaterial do Brasil – era cantada pelos sinos. Sim, até hoje em São João Del Rei os sinos soam e contam a história, seja na Ponte do Rosário ou na Rua das Casas Tortas.

CAETÉ

Vila Nova da Rainha – hoje Caeté – há 60 quilômetros de Belo Horizonte, faz parte da Região Metropolitana da Capital. O movimento da cidade moderna, que abriga, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para 2017, mais de 44 mil habitantes, ameaça engolir os rastros da majestosa Vila setecentista, mas o Centro Histórico resiste e se põe à disposição daqueles que querem ouvir os ecos dos antigos bandeirantes que desbravaram a região chamada pelos índios de Caeté – a mata virgem. A história da cidade ainda registra importantes episódios, como a guerra civil dos Emboabas, disputa entre paulistas e portugueses que almejavam a posse das minas. A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso – a primeira em Minas Gerais a ser construída em alvenaria de pedra – é a guardiã dessa memória.

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso

Caeté ainda abriga em seu território a Serra da Piedade. Lá, o Santuário Nossa Senhora da Piedade, datado do fim do século XVII, se ergue sobre as nuvens. A igreja dedicada à padroeira de Minas Gerais é a menor basílica do mundo. Ao lado, porém, foi construído um complexo capaz de receber verdadeiras multidões. A Basílica Estadual das Romarias, construída na década de 1970, pode receber até três mil fiéis em sua nave. A igreja é uma rara pérola que equilibra a sobriedade de um templo afastado de tudo, de difícil construção, com a face educadora da arquitetura barroca.

SERRO

E no Vale do Jequinhonha se mantém o Serro Frio – as terras frias a caminho do semi-árido mineiro que se faz verde nas altitudes, que podem chegar próximo a dois mil metros, gerando um clima tropical de altitude. A Vila do Príncipe é mãe de Diamantina e tem uma arquitetura peculiar em relação às vilas-irmãs localizadas na Região Central do Estado e do Campo das Vertentes.

O mais conhecido cartão postal do Serro é a Igreja de Santa Rita, no alto da desafiadora escada de (apenas) 58 degraus, parece pequena, mas abre para crentes e turistas um dos mais deslumbrantes altares construídos durante o ciclo do ouro.

A Casa do Barão do Serro, às margens do Córrego Quatro Viténs, onde ele extraía o ouro, é outra oportunidade ímpar de testemunhar as particularidades do modo de vida das Minas e especialmente do dono da casa: um barão republicano e com preocupações, digamos, humanistas. As quatro impávidas palmeiras plantadas na frente da casa foram presentes para cada um dos quatro filhos. Para o homem que renunciou ao título nobiliárquico, os escravos não podiam ser maltratados como era costume na época e construiu alojamentos térreos – extinguindo as senzalas construídas embaixo das casas grandes – em que homens ficavam de um lado e mulheres e crianças de outro, melhorando enormemente as condições de saúde e de vida geral dos negros que viviam na chácara. Hoje, depois de uma reforma, é possível admirar a área externa no fundo da propriedade, com o piso feito em pé de moleque com esmero e arte em forma de flores, o que restou a banheira da baronesa, provavelmente cheia com água quente trazida da cozinha, de onde era bem próxima, e a entrada de um túnel escavado no barrando, onde, possivelmente, era guardado o ouro a salvo do fisco.

Apesar de um deleite pra os olhos, a principal marca do Serro é para o paladar: o Queijo do Serro, que tem o rico “Processo Artesanal de Produção do Queijo do Serro”, reconhecido, em níveis estadual e nacional, por meio de registro, respectivamente, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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