CURA – Circuito Urbano de Arte anuncia curadoras convidadas
Já é de praxe, a cada edição do festival Cura – Circuito Urbano de Arte a seleção curatorial avança mais por lugares antes nunca desbravados, jogando luz para novas descobertas que se comprovam apostas certeiras. Caso de Jaider Esbell, artista indígena que é um dos grandes destaques da 34ª Bienal de São Paulo. Esbell levou para lá a obra Entidades, as grandes serpentes infláveis exibidas pela primeira vez em uma inédita intervenção no viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte, no ano passado.
Priscila Amoni, Janaína Macruz e Juliana Flores, idealizadoras e curadoras do festival que este ano acontece entre 21 de outubro e 02 de novembro, desafiam a convenção e com olhar afiado para o novo, promovem as mudanças e aberturas tão necessárias e bem-vindas. Para tanto, contam com a ajuda de curadoras convidadas. Para a sexta edição, foram chamadas a pesquisadora, mulher do Povo Terena, artista e educadora Naine Terena de Jesus e a educadora, artista visual e produtora Flaviana Lasan.
“A ideia do Cura é ampliar e expandir. Para tanto, buscamos nos somar a mulheres que trabalham nesse sentido. A Flaviana tem um forte trabalho de pesquisa sobre a presença da mulher na história da arte. Já a Naine faz um forte trabalho junto aos povos indígenas. Elas trazem esse olhar que para a gente é muito caro, admiramos suas pesquisas” contra Priscila Amoni.
Abaixo um pouco mais sobre elas.
Flaviana Lasan
Flaviana Lasan é educadora, artista visual, produtora e idealizadora da Gamela (@lojagamela) empregando a curadoria ativista. Licenciada em artes visuais pela UEMG e pós-graduanda em Ensino de História e América Latina pela UNILA, seus principais estudos estão dirigidos à discussão sobre raça, gênero e às relações sociais opressivas, com ênfase em temas como arte, história e educação.
Atuou em diferentes equipamentos artísticos de Belo Horizonte, iniciativas privadas e independentes pelo Brasil e com diferentes artistas do mundo.
Atualmente está como instrutora de artes visuais em ocupações localizadas em Foz do Iguaçu/PR; curadora convidada do Movimento Arte na Maternidade – MAM, de Belo Horizonte/MG; e curadora convidada do Cura – Circuito Urbano de Arte (2021).
“Milton Santos é um dos autores que mais leio, geógrafo brasileiro que me contempla. Fala muito de território, desse território que deságua todos os sentimentos, todas as forças, tudo que existe de um povo, de uma cultura. É essa narrativa que levo para todos os meus trabalhos “, conta ela. Não será diferente no Cura.
NAINE TERENA DE JESUS
Mestre em artes, doutora em educação, graduada em Comunicação Social (UFMT). Mulher do povo Terena, é pesquisadora, professora Universitária, curadora e artista educadora. Organizadora da coletânea de escritores indígenas ‘Tempos’ (Ed. Sustentável, 2021). Terena foi uma das cinco finalistas do Jane Lombard Prize for Art and Social Justice, oferecido em 2019, pela Vera List Center for Art and Politics, de Nova York (EUA). Foi agraciada como Mestre da Cultura de Mato Grosso (2020/2021). Foi curadora da exposição Véxoa – Nós sabemos, da Pinacoteca de SP, da Exposição Virtual Rec-Tyty, junto à Sandra Benitez, Airton Krenak, Carlos Papá e Cristine Takuá. É docente da especialização em gestão cultural – ampliação de repertórios, do Instituto Itaú Cultural. É pesquisadora colaboradora no projeto Cultures of Anti-Racism in Latin America – CARLA – Universidade de Manchester e no Labtecc/UFMT.
Sobre o Cura, diz “é sempre satisfatório romper limites geográficos e estudar para novas oportunidades. Assim recebi o convite, com uma vontade de ampliar estudos. Com desafio extra de pensar um formato presencial à distância. Pensar na possibilidade da arte de rua nesse momento”.
Sobre o Cura 2021
O festival se despede da Rua Sapucaí e parte para a Praça Raul Soares, uma das referências de Belo Horizonte, encruzilhada de diversos caminhos, afetos, culturas e experiências.
Quem nos conduz até lá são as águas da avenida Amazonas. Em suas margens, encontramos a “Selva Mãe do Rio Menino”, de Daiara Tukano; a primeira empena pintada por uma artista indígena no mundo, realizada no festival de 2020. “Pedimos licença e a benção para, então, desaguar nesse novo território, rico em história e memória: uma praça-circular, local de travessias e atravessamentos. Queremos mergulhar nesse lugar para nos conectarmos à vida que ali pulsa, ontem e hoje, no asfalto, edifícios, comércio, bares, igrejas e inferninhos. Queremos abrir um portal, criar dimensões, adentrar outros mundos dentro do nosso próprio mundo, conectar com outros seres e existências, alterar o ritmo da vida e do cotidiano” conta Priscila Amoni. Se o mirante da Sapucaí nos convoca a ver, na Praça Raul Soares incorpora também o ser visto. Na praça, o público estará no centro e as novas empenas – 3 no total – serão como entidades, que nos olham e nos guardam.
Sobre o novo território
A Praça Raul Soares tem uma característica que a torna única na cidade: seu piso com motivo marajoara, povo indígena considerado extinto, mas que segue vivo em seus descendentes.
No centro da praça está a fonte, cujo contorno nos remete à imagem da Chakana, a cruz Inca, povo originário do Peru, país onde é a foz do rio Amazonas. Ela possui doze pontos, cada um dos quais divididos em terços que representam três mundos: o mundo inferior, que é o mundo dos mortos; o mundo que vivemos, que é o mundo dos vivos; e o mundo superior, que é o mundo dos espíritos. Ao ler os signos deste novo território, compreendemos ainda mais o que guiou a curadoria desta edição.
Esta mesma praça que guarda a cultura dos povos originários do rio Amazonas é considerada o centro geográfico, o marco zero de BH, e por ela cruzam avenidas que conectam as regiões oeste e leste, central e sul da cidade. Mas, para além das travessias, a Praça Raul Soares é, sobretudo, um lugar de encontros de pessoas e de histórias, é lugar de toda a gente.
Sobre o Cura
O Circuito Urbano de Arte realizou sua quinta edição em 2020, completando 18 obras de arte em fachadas e empenas, sendo 14 na região do hipercentro da capital mineira e quatro na região da Lagoinha, formando, assim, a maior coleção de arte mural em grande escala já feita por um único festival brasileiro. O CURA também presenteou BH com o primeiro e, até então único, Mirante de Arte Urbana do mundo. Todas as pinturas podem ser contempladas da Rua Sapucaí.