CONHEÇA AS VILAS DO OURO DE MINAS GERAIS
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CONHEÇA AS VILAS DO OURO DE MINAS GERAIS

história

CONHEÇA AS VILAS DO OURO DE MINAS GERAIS

Mariana, Ouro Preto, Sabará, Pitangui, São João del Rei, Serro e Tiradentes

A mineração é tão importante na formação econômica e social de Minas Gerais que está no próprio nome do Estado. O brilho do ouro e dos diamantes encontrados no século XVIII, seguidos pelo minério de ferro no século passado, entremeados por uma infinidade de gemas distribuídos pelo território dão forma e cor não só à política e arquitetura mineira, mas principalmente à alma do povo das alterosas.

Isso é tão forte que fazemos distinção entre as palavras “mineiro” e “minerador” – no Brasil, gentílico e profissão, respectivamente -, coisa que não acontece na maioria das línguas.

Mas tudo começa com o ouro e ainda é possível encontrar bons exemplares preservados dessa história no que convencionamos chamar “cidades históricas”. Datadas do período colonial, elas hoje são patrimônios tombados em nível estadual, nacional e até mundial.

Em uma primeira fase – entre 1711 e 1718 – a Coroa Portuguesa elevou oito arraiais à condição de vilas – as chamadas VILAS DO OURO – que recebem e esperam uma visita de pessoas do mundo inteiro dispostas a subir e descer ladeiras, olhar para o alto em busca das eiras e beiras e se abaixar para entrar nas minas que seguem brotando em quintais, além de atravessar rios e córregos que ainda escondem pepitas e mistérios.

Em 1711 a província teve as três primeiras vilas reconhecidas pela Coroa: Vila do Carmo, hoje Mariana; Vila Rica, Ouro Preto; e Vila de Sabará, Sabará.

MARIANA

MARIANA é a Primaz de Minas. 

Igreja de São Francisco – Mariana

MARIANA é a Primaz de Minas. A cidade que foi vítima do maior desastre ambiental da história do Brasil, com o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, tem um dos centros históricos mais representativos do barroco nacional. A Praça Minas Gerais, que é um dos principais cartões postais do Estado, reúne em volta do seu contorno quadrado as igrejas de São Francisco e de Nossa Senhora do Carmo e a Prefeitura (antiga Casa de Câmara e Cadeia), além do Pelourinho.

De todas as preciosidades marianenses, a minha preferida, entretanto, é, talvez, a mais singela de todas: a Igreja de São Pedro dos Clérigos. Do seu adro é possível ver a cidade que sobe a partir da estação de trem.

São Pedro dos Clérigos
São Pedro dos Clérigos

Da torre, os telhados vermelhos de Mariana formam uma onda embalada pelo badalar dos sinos.  Fundada em 1731, só teve as obras começadas em 1753 com a preparação do terreno, e avançaram com muita lentidão, com ciclos de atividade e paralisação, prolongando-se até o século XIX e jamais sendo concluída, sendo abandonada em torno de 1820 sem que as torres tivessem sido erguidas. Elas só seriam completadas entre 1920-1922 em um estilo um tanto diferente, sob a supervisão do padre e arquiteto Arthur Hoyer.

Igreja de São Francisco – Mariana
Igreja de São Francisco – Mariana

A decoração do interior tampouco foi executada, salvo o altar-mor, e mesmo este ficou incompleto, nunca recebendo a típica douração e pintura. No entanto, é uma obra de talha em madeira de qualidade superior, e abriga uma estátua de São Pedro de tamanho e sofisticada execução.

OURO PRETO

A antiga Vila Rica, Patrimônio Cultural da Humanidade reconhecido pela Unesco

Rua direita Ouro Preto

E é justamente de trem, um “coiso” que tem a missão de transportar passageiros e cargas no mundo inteiro, mas que para o mineiro é todas as outras coisas e ainda dá no coração, a forma mais charmosa de chegar a Ouro Preto.

A viagem entre dois municípios revela uma paisagem típica da região Central de Minas, com montanhas e cachoeiras e cumprir os menos de 15 quilômetros no vagão panorâmico vale o custo superior.

Vista Ouro Preto

A antiga Vila Rica, Patrimônio Cultural da Humanidade reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), é, provavelmente, a cidade mais internacionalizada de Minas Gerais. Pelas ladeiras é possível ouvir sotaques do mundo inteiro.

Turistas que buscam o cenário cinematográfico que abriga uma cidade viva, lotada de universitários e quase 100 mil habitantes.

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Enumerar as igrejas e museus é quase impossível. Um dos mais incríveis é a Casa dos Contos, administrado pela Casa da Moeda do Brasil e um dos raríssimos que abre as portas todos os dias do ano, faça chuva ou sol.

Dentro do centro histórico ainda é possível visitar antigas minas e sentir um pouco da sensação do que é ter que se dobrar e embrenhar por dentro da terra em busca do ouro. A experiência ínfima pode nos dar uma leve sensação do que eram as condições de trabalho no século XVIII.

A cidade é detentora do maior acervo da obra e Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. O museu em honra do mestre do barroco brasileiro funciona em um Circuito que abrange três igrejas: Santuário Nossa Senhora da Conceição, que abriga as salas: Refulgência, Festas Religiosas, Arte na Talha, Mini-auditório, Sala Multivisão e Sala da Encenação da Morte; Igreja de São Francisco de Assis e Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Perdões.

A gastronomia é outro destaque na cidade. Além da melhor comida do mundo – a mineira (modéstia às favas) – a cidade oferece um sem-número de opções de todos os preços e modalidades, dos “podrões” tão necessários à sobrevivência dos estudantes até restaurantes estrelados com o melhor da gastronomia contemporânea mundial.

SABARÁ

Distante 23 quilômetros de Belo Horizonte, Sabará é a menos famosa das três vilas, mas não por isso menos importante ou bela.

Sabará - Minas Gerais

Distante 23 quilômetros de Belo Horizonte, Sabará é a menos famosa das três vilas, mas não por isso menos importante ou bela. O município sofre os benefícios e vicissitudes da proximidade com a Capital e, muitas vezes, é percebida apenas como uma cidade dormitório.

Quem anda, porém, pelas suas ruas históricas, especialmente o circuito de cerca de três quilômetros da rua Direita, entre a Igreja de São Francisco e a Igrejinha do Ó, faz um “intensivão” sobre a alma das Alterosas.

Sabará - Minas Gerais
Igrejinha do Ó Sabará – Minas Gerais – Foto: Visite Minas Gerais

Diz a sabedoria ou o “diz-que-me-diz” local que Aleijadinho foi contratado para ornamentar a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, tarefa que executou com todo o requinte da sua arte, mas que, nas horas vagas, desviava material e trabalhava na construção da Igreja de São Francisco de Assis. A primeira parte é comprovada pela história.

A participação do mestre é comprovada em dois diferentes períodos. Já que ele levasse material de um templo para o outro, será de difícil comprovação, ainda que a história seja deliciosa.

A Igrejinha do Ó é em si um ex-voto em agradecimento a uma graça alcançada pelo capitão-mor Lucas Ribeiro de Almeida. As obras iniciadas em 2017 pelos devotos de Nossa Senhora da Expectação foram impulsionadas por ordem do capitão-mor que mandou registrar nas paredes do templo a história do seu acidente e recuperação.

Mas junto ao Museu do Ouro, exemplar único na sua categoria e ainda pouco visitado pelos turistas brasileiros, a minha preferida é a Igreja do Rosário.

O templo majestoso e nunca completado estava sendo construído pelos escravos que ao saberem da promulgação da Lei Áurea abandonaram a obra. Dentro do templo ainda está de pé a antiga Capela e ali temos uma aula sobre história e arquitetura entre paredes e sob o céu.

A tudo isso se soma a culinária de Sabará reverenciada em vários festivais gastronômicos. Recentemente alçados à categoria de super alimentos pela ciência, a jabuticaba e o ora-pro-nobis são estrelas que dão origem a uma culinária tradicional e inventiva que sustentou os antigos desbravadores e ainda nos apresenta ao mundo.

PITANGUI

A “capital” das Minas do Poente, parte da antiga rota para atingir Goiás Velho no século XVIII

O ano de 1714 foi pródigo na elevação dos antigos arraiais em VILAS DO OURO. Além de Vila Nova da Rainha (Caeté) e Vila do Príncipe (Serro)  alçava à condição de vila PITANGUI – a sétima Vila do Ouro – como gosta de ser reconhecida.

A “capital” das Minas do Poente, parte da antiga rota para atingir Goiás Velho no século XVIII, muitas vezes, não desconfia do grande patrimônio que abriga. Nesse tempo emergiram nas suas ruas duas das mais importantes e poderosas personagens femininas da história de Minas: Joaquina de Pompéu e Maria Tangará. As duas senhoras não se limitaram à sombra dos maridos e levaram com mãos de ferro os negócios das famílias e a influência política. Ainda hoje são cercadas de lendas e há muito a ser esclarecido.

O certo é que além de poderosas e reconhecidas em seu tempo, ambas até hoje são vítimas de uma visão machista e estereotipada de toda mulher que alcançou destaque na sociedade, tendo a imagem ligada, muitas vezes, ao apetite sexual, desonestidade e práticas religiosas malignas. Em meados do século seguinte era um dos mais aglomerados urbanos da Província e adquiria o título de Fidelíssima Cidade.

Casarão de Maria Tangará – Pitangui

Nas ruas de Pitangui as pessoas ainda se admiram ao encontrar quem tenha ido até lá apenas para conhecer a sua história. Sede do Circuito Turístico Verde Trilhas dos Bandeirantes tem, ainda que lentamente, se apresentando como um pólo turístico. Apesar da falta de sinalização que dificulta as rotas a pé é possível conhecer o Centro Histórico e se encantar com o casario, as igrejas e as histórias que pouco a pouco os menos tímidos começam a contar. O Casarão de Maria Tangará, convertido em escola de ensino fundamental, infelizmente não está bem preservado. A imagem das janelas quebradas é de extrema tristeza.

Igreja de São Francisco é um dos meus lugares preferidos. E a Cruz do Monte vale pegar o carro e chegar ao ponto mais alto da cidade para, aos pés do Cristo Redentor, apreciar “O Payz do Pitanguy”.

SÃO JOÃO DEL REI

Em 1713 foi a vez do Arraial Novo do Rio das Mortes, fundado em 1704, se tornar a Vila de São João Del Rei.

São João del Rei - Minas Gerais

Em 1713 foi a vez do Arraial Novo do Rio das Mortes, fundado em 1704, se tornar a Vila de São João Del Rei. No Campo das Vertentes surgia, então, a principal povoação setecentista da região e uma das principais cidades do Estado até hoje, com cerca de 90 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2017.

Ao longo do Córrego do Lenheiro surgiu um dos mais impressionantes centros da economia minerária, hoje convertido em centro histórico. A Rua Direita (que modernamente ganhou o nome de Avenida Getúlio Vargas, mas ninguém se refere a ela assim) vai da Igreja de Nossa Senhora do Rosário à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, passando pela Matriz de Nossa Senhora do Pilar. São menos de 300 metros ladeados por um dos mais importantes casarios coloniais e, ainda, pela casa de Dom Lucas Moreira Neves e hoje Memorial que homenageia o religioso.

Os caminhos percorridos pelas damas, os senhores e, principalmente, pelos escravos ainda exalam romances, a dor da escravidão e conspirações ladeadas pelos casarões convertidos em lojas de artesanato e objetos fabricados em estanho – outra antiga tradição da cidade -, em que o número de janelas significava poder e a trilha sonora – já declarada patrimônio imaterial do Brasil – era cantada pelos sinos. Sim, até hoje em São João Del Rei os sinos soam e contam a história, seja na Ponte do Rosário ou na Rua das Casas Tortas.

CAETÉ

Vila Nova da Rainha – hoje Caeté – há 60 quilômetros de Belo Horizonte, faz parte da Região Metropolitana da Capital.

Basílica de Nossa Senhora da Piedade

Vila Nova da Rainha – hoje Caeté – há 60 quilômetros de Belo Horizonte, faz parte da Região Metropolitana da Capital. O movimento da cidade moderna, que abriga, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para 2017, mais de 44 mil habitantes, ameaça engolir os rastros da majestosa Vila setecentista, mas o Centro Histórico resiste e se põe à disposição daqueles que querem ouvir os ecos dos antigos bandeirantes que desbravaram a região chamada pelos índios de Caeté – a mata virgem.

A história da cidade ainda registra importantes episódios, como a guerra civil dos Emboabas, disputa entre paulistas e portugueses que almejavam a posse das minas. A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso – a primeira em Minas Gerais a ser construída em alvenaria de pedra – é a guardiã dessa memória.

Caeté ainda abriga em seu território a Serra da Piedade. Lá, o Santuário Nossa Senhora da Piedade, datado do fim do século XVII, se ergue sobre as nuvens. A igreja dedicada à padroeira de Minas Gerais é a menor basílica do mundo. Ao lado, porém, foi construído um complexo capaz de receber verdadeiras multidões. A Basílica Estadual das Romarias, construída na década de 1970, pode receber até três mil fiéis em sua nave. A igreja é uma rara pérola que equilibra a sobriedade de um templo afastado de tudo, de difícil construção, com a face educadora da arquitetura barroca.

Basílica de Nossa Senhora da Piedade
Basílica de Nossa Senhora da Piedade

SERRO

É no Vale do Jequinhonha se mantém o Serro Frio.

É no Vale do Jequinhonha se mantém o Serro Frio – as terras frias a caminho do semi-árido mineiro que se faz verde nas altitudes, que podem chegar próximo a dois mil metros, gerando um clima tropical de altitude. A Vila do Príncipe é mãe de Diamantina e tem uma arquitetura peculiar em relação às vilas-irmãs localizadas na Região Central do Estado e do Campo das Vertentes.

O mais conhecido cartão postal do Serro é a Igreja de Santa Rita, no alto da desafiadora escada de (apenas) 58 degraus, parece pequena, mas abre para crentes e turistas um dos mais deslumbrantes altares construídos durante o ciclo do ouro.

Igreja de Santa Rita

A Casa do Barão do Serro, às margens do Córrego Quatro Viténs, onde ele extraía o ouro, é outra oportunidade ímpar de testemunhar as particularidades do modo de vida das Minas e especialmente do dono da casa: um barão republicano e com preocupações, digamos, humanistas. As quatro impávidas palmeiras plantadas na frente da casa foram presentes para cada um dos quatro filhos.

Para o homem que renunciou ao título nobiliárquico, os escravos não podiam ser maltratados como era costume na época e construiu alojamentos térreos – extinguindo as senzalas construídas embaixo das casas grandes – em que homens ficavam de um lado e mulheres e crianças de outro, melhorando enormemente as condições de saúde e de vida geral dos negros que viviam na chácara.

Hoje, depois de uma reforma, é possível admirar a área externa no fundo da propriedade, com o piso feito em pé de moleque com esmero e arte em forma de flores, o que restou a banheira da baronesa, provavelmente cheia com água quente trazida da cozinha, de onde era bem próxima, e a entrada de um túnel escavado no barrando, onde, possivelmente, era guardado o ouro a salvo do fisco.

Casa do Barão do Serro

Apesar de um deleite pra os olhos, a principal marca do Serro é para o paladar: o Queijo do Serro, que tem o rico “Processo Artesanal de Produção do Queijo do Serro”, reconhecido, em níveis estadual e nacional, por meio de registro, respectivamente, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), e pelo

Apesar de um deleite pra os olhos, a principal marca do Serro é para o paladar: o Queijo do Serro, que tem o rico “Processo Artesanal de Produção do Queijo do Serro”, reconhecido, em níveis estadual e nacional, por meio de registro, respectivamente, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

TIRADENTES

Chegando ao fim da nossa viagem pela primeira fase das Vilas do Ouro, em 1718, o Arraial Velho do Rio das Mortes se transformava na Vila de São José del Rei.

Chegando ao fim da nossa viagem pela primeira fase das Vilas do Ouro, em 1718, o Arraial Velho do Rio das Mortes se transformava na Vila de São José del Rei. Hoje convertida em um dos principais destinos turísticos de Minas Gerais, emoldurada pela Serra de São José, Tiradentes é história, cultura, charme e infraestrutura que se presta a palco de todo tipo de eventos e festivais, cenário para cinema e televisão e aconchego para visitantes de diferentes perfis.

As casinhas coloridas bem conservadas hoje dão espaço a lojas de artesanato, cafés, pousadas e restaurantes que exalam da mais típica comida mineira até a mais alta gastronomia contemporânea. Além das ruas que voltaram a ter os nomes antigos e nos conduzem a relíquias como a Matriz de Santo Antônio, o Chafariz e aos museus de riquíssimas coleções do Brasil Colônia e Império, outros caminhos menos prováveis e só conhecidos pelos moradores nos levam a histórias ímpares em poucos minutos – como o Caminho das Escravas – bem no centro da cidade.

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