Museus retratam escravidão no Brasil e no mundo
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Museus retratam escravidão no Brasil e no mundo

Falar sobre alguns temas é extremamente difícil e igualmente urgente. A escravidão deixou marcas indeléveis no mundo e, de modo particular, na história e no presente da sociedade brasileira. Muitas vezes nos faltam argumentos e até conhecimento básico sobre a questão. E aí os museus podem ser instrumentos poderosos para quem quer se informar.

Na listinha abaixo, alguns museus que se dedicam exclusivamente ao tema e outros que pelas características dos seus acervos, também são boa fonte de consulta e reflexão. Em vários, a própria edificação é um testemunho do trabalho feito por mãos escravizadas. Alguns já oferecem tours virtuais.

Faça o seu roteiro e informe-se! Aprenda e compartilhe! E, se você souber de mais algum, mande pra gente. Queremos conhecer e divulgar.

Em Minas Gerais

Museu do Escravo, em Belo Vale

O Museu do Escravo situado em Belo Vale é uma instituição única no país. Possui um dos mais importantes acervos com peças referentes a escravatura brasileira. Foi criado em Congonhas nas dependências da Basílica do Senhor Bom Jesus, pelo Padre José Luciano Jacques Penido, natural do município de Belo Vale. Em 1977, foi transferido para a fazenda Boa Esperança em Belo Vale sendo oficializado como Museu municipal através da Lei nº 504/75 de 10 de abril de 1988. Em 13 de maio do mesmo ano, em comemoração do centenário da abolição da escravatura no Brasil, a instituição foi inaugurada em suas atuais dependências, um prédio em estilo colonial, projetado por Ivan Pavle Bojanic. O museu do Escravo é composto de seis salas. Ao fundo possui um amplo pátio ladeado pela senzala e ao centro um pelourinho. Nas salas do museu conserva mais de 3.500 peças que traduzem um pouco da violência e da crueldade a que os escravos foram submetidos no Brasil ao longo de 358 anos.

Foto: Circuito Veredas do Paraopeba

Casa dos Contos, em Ouro Preto

Morava nessa casa o arrematante da arrecadação tributária das entradas e dízimos, João Rodrigues de Macedo. Ele era o responsável pelos impostos da Coroa Portuguesa e, por isso, um dos homens mais ricos do Brasil Colônia. Nessa casa monumental ficavam as tropas imperiais e também foi onde ficaram detidos os conjurados mais elevados, como Cláudio Manoel da Costa e o padre Rolim. Dizem que até hoje um túnel liga a Casa ao Palácio dos Governadores, mas nada é confirmado. O que se pode ver é um acervo com mobiliário dos séculos XVIII e XIX, documentos, cartas, rica biblioteca e a presença da Casa da Moeda do Brasil, no ambiente da Casa de Fundição e da Moeda Original, que contém uma coleção de moedas. É uma viagem encantadora. Através do metal cunhado, vemos passar sob nossos olhos toda a história econômica e fiscal do Brasil. E quando estiver aqui, não deixe de visitar também a senzala. Essa é uma das últimas casas ouro-pretanas que ainda preservam essa construção onde tantas injustiças eram cometidas.

Museu Regional, em São João Del Rei

Ir ao local é revisitar a história de São João del Rei. O acervo revela o cotidiano dos moradores nos séculos XVIII e XIX por meio de móveis, utensílios, meios de transporte, imagens religiosas e pinturas. Há ainda um órgão de tubos em forma de armário que remete à tradição musical da cidade e equipamentos de trabalho (balança de pesar ouro, rocas, teares, formão e arado).

Casa de Padre Toledo, em Tiradentes

A aparente simplicidade da parte externa do casarão não dá pistas da riqueza histórica e cultural que o mesmo abriga. Sendo na realidade um solar, o museu conhecido como “Casa Padre Toledo”, pode ser definido como um dos bens culturais mais preciosos da história mineira e local. Um dos fatos mais interessantes é que o mesmo foi sede da primeira reunião dos líderes da Inconfidência Mineira, em 1788, e hoje o espaço tem o importante papel de contar a história deste que foi um dos principais movimentos separatistas do país, e do seu proprietário, Padre Toledo. A própria estrutura da casa reflete aspectos culturais importantes, sendo suas fundações feitas de pedra, e as paredes de moledo, material local fácil de talhar. Além disso, a pedra-sabão dá um toque regional nas vergas e ombreiras das janelas, como também nas soleiras das portas. O museu conta com 16 cômodos e o destaque vai para a Sala dos Espelhos, que possui um espelho no chão que reflete as lindas pinturas do teto.

No Brasil

Casa do Benin – SalvadorBahia

Durante o período oficial da escravidão no Brasil, milhares de negros que viviam no Benim foram traficados para a Bahia. Essa migração forçada causou um impacto cultural nos dois lugares, como procura mostrar a Casa do Benin, no Pelourinho. O acervo, composto por 200 peças originárias do país africano, foram colecionadas pelo fotógrafo francês Pierre Verger ao longo de suas viagens. O espaço também foi decorado com tecidos coloridos da designer e artista plástica negra Goya Lopes, uma das primeiras a trabalhar com a moda afro-brasileira.

Museu Afro Brasil – São Paulo, SP

Dentro do Parque do Ibirapuera, o Museu Afro Brasil destaca a maneira que as influências africanas ajudaram a construir a identidade e a cultura brasileira. O acervo de mais de seis mil peças aborda temas como escravidão, religião, trabalho e arte em vários períodos da história – do século 18 aos dias de hoje. Dessa forma, o visitante aprende como os conhecimentos africanos foram determinantes no desenvolvimento da economia rural e urbana, como a cultura desse continente se mesclou com a do Brasil para criação das nossas festividades e também sobre a competência técnica e a diversidade da arte africana.

No Mundo

Apartheid Museum – JohannesburgoÁfrica do Sul

Na bilheteria, os ingressos são distribuídos aleatoriamente e dividem os visitantes em dois grupos: os brancos e os “não-brancos”. Cada um faz um percurso diferente dentro do museu, que busca ilustrar, desde o início da experiência, como era o apartheid. Através de recursos multimídia, a exposição conta em ordem cronológica a história do regime de segregação racial, que perdurou na África do Sul de 1948 a 1994, e revela como era a vida ultrajante dos sul-africanos naquele período.

Brooklyn Museum of Art – Nova YorkEstados Unidos

O museu de arte do Brooklyn foi um dos primeiros dos Estados Unidos a exibir peças de arte africana. Hoje, sua coleção permanente continua sendo uma das principais do país, com cerca de 4 500 obras. Ali, os visitantes podem conhecer desde artefatos antigos encontrados por todo o continente – especialmente no Congo, na Nigéria e em Gana –, até quadros e esculturas contemporâneas de artistas negros, como Bob Thompson, Mickalene Thomas e Michael Richards.

District Six Museum – Cidade do CaboÁfrica do Sul

Durante o regime do apartheid, os bairros da Cidade do Cabo foram divididos entre aqueles que deveriam ser habitados por brancos e aqueles que deveriam ser habitados por negros. Nessa nova organização, o District Six acabou sendo designado como um bairro exclusivo para pessoas brancas e, por isso, mais de 60 mil pessoas negras foram expulsas e direcionadas para as townships (forma como são chamadas as favelas na África do Sul) a 25 quilômetros de distância. O District Six Museum serve como um memorial desses tristes acontecimentos na década de 1970, sendo que o acervo foi montado com a ajuda dos antigos residentes – e alguns deles são guias do lugar.

International Slavery Museum – LiverpoolInglaterra

O Museu da Escravidão, de Liverpool, fica a uma curta distância das docas de onde os navios eram preparados para o comércio de pessoas no século 18. Fundado em 2007, no bicentenário da abolição do comércio britânico de escravos, o espaço recebe os visitantes com máscaras tradicionais de Serra Leoa, tecidos coloridos de Gana, adornos de Camarões e o som dos tambores do Congo. Tudo para mostrar que, antes da escravidão, a África era um continente com tradições artísticas e religiosas de longa data. Só então os turistas seguem para salas que abordam o comércio de negros, as ideologias racistas e o desconhecimento dos europeus em relação às culturas africanas. O passeio termina em uma área dedicada aos heróis da luta pelos direitos humanos, como Martin Luther King Jr.

National Civil Rights Museum – MemphisEstados Unidos

Um dos eventos mais marcantes da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos foi a morte de Martin Luther King Jr em 4 de abril de 1968. O ativista político foi assassinado em frente ao Lorraine Motel, em Memphis, que depois se transformou no Museu Nacional dos Direitos Civis. O espaço utiliza objetos, filmes, gravações e mídias interativas para guiar os visitantes ao longo de cinco séculos da história da luta dos negros no país. A exposição começa com os primeiros sinais de resistência durante o período da escravidão, passa pela Guerra Civil dos Estados Unidos e termina com os últimos eventos do século 20, que inspiraram as pessoas do mundo inteiro a lutarem por igualdade racial.

National Museum of African American History and Culture – Washington D.C.,Estados Unidos

Após 13 anos de construção, a inauguração em 2016 do Museu Nacional da História e Cultura Afro-Americana, em Washington D.C., marcou um momento importante na história dos Estados Unidos. O espaço de mais de 37 mil metros quadrados fica no National Mall, área que concentra os mais importantes museus e monumentos do país. O lugar abriga cerca de 3 500 artefatos, que representam os últimos 400 anos em que os negros estão vivendo na América, da escravidão aos direitos civis, terminando com o movimento “Black Lives Matter” dos dias de hoje.

Philadelphia Museum of Art – PhiladelphiaEstados Unidos

O afro-americano Julian Abele foi um dos arquitetos que projetou o Museu de Arte da Filadélfia, que também guarda obras de artistas negros em seu interior: na coleção permanente há pinturas, fotografias e até móveis dos anos 1800 aos dias de hoje. Um bom exemplo é o pintor William Henry Johnson, que possui onze quadros expostos ali. Para mais obras de artistas africanos e afroamericanos, vale visitar, também na Filadélfia, o African American Museum, a Barnes Foundation, o The Colored Girls Museum, o Penn Museum e o Art Sanctuary.

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